Encontro de Artes Performáticas e (Neuro)Ciências

Dias 1 e 2 de junho de 2017

Teatro Roxinho – CCMN/UFRJ 

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Há mais de cinquenta anos, o cientista e escritor Charles Percy Snow sugeriu que talvez a arte e a ciência não fossem duas culturas separadas. De fato, percebemos neste início de milênio a existência de uma nova práxis unindo arte e ciência que vem apresentando desdobramentos em soluções terapêuticas, estéticas e ontológicas. No entanto, no que diz respeito às artes performáticas, trata-se de um campo ainda pouco explorado sob o ponto de vista da união histórica entre arte e ciência. O olhar panorâmico sobre a história do teatro ocidental nos últimos cem anos revela a importância que o intercâmbio entre arte e ciência representou – e ainda representa – para o avanço teórico-prático no campo das artes performáticas. Pode-se dizer que, desde o início do século XX, quando Stanislavski e Meyerhold assimilaram o conhecimento difundido tanto pelos fisiologistas e reflexologistas de seu tempo (Ivan Pavlov, Vladimir Bekhterev…) como pelos psicólogos que se dedicaram ao estudo científico das emoções (Théodule Ribot e William James), a interdisciplinaridade passou a ser prática recorrente da epistemologia teatral. Após os mestres russos, vários foram os nomes de grandes personalidades do teatro que lançaram mão de disciplinas não-artísticas para problematizar o trabalho do ator e/ou do dançarino assim como a estética cênica. Podemos citar aqui Artaud, Grotowski, Brook, Barba, Schechner, entre outros. Nas últimas três décadas, dois fenômenos impactaram de forma significativa a produção no campo das artes: o avanço tecnológico e o desenvolvimento do conhecimento neurocientífico (principalmente estudos sobre neuroplasticidade, sistema de recompensa e neurônios-espelho). No que concerne as artes performáticas, não somente as experiências estéticas unindo tecnologia e performance têm se destacado na contemporaneidade, como um novo campo epistemológico vem se estruturando em torno do binômio teatro-neurociências. No entanto, não obstante a multiplicação de estudos teóricos articulando conceitos neurocientíficos e teorias do teatro (John Lutterbie, 2008; Rhonda Blair, 2008; Rick Kemp, 2012) pesquisas empíricas neste campo, apesar de promissoras, são ainda bastante raras. O custo elevado dos procedimentos e/ou instrumentos científicos em neurociência, assim como a falta de conhecimento por parte dos pesquisadores ainda são barreiras a serem ultrapassadas. O pesquisador teatral Marco de Marinis afirma:        “ […] para estudar de modo adequado a questão do corpo e da corporeidade no teatro, não é possível limitar-se ao referimento das ciências humanas e sociais, mas é preciso observar, também, as ciências da vida, em particular a biologia e a neurobiologia.” (Marinis, 2012, p.52). Trata-se de um campo epistemológico extremamente rico, mas que se encontra ainda em seu estágio embrionário.

Na contemporaneidade observa-se, por outro lado, um fenômeno bastante significativo e que vem ganhando cada vez mais terreno no domínio da comunidade científica: o ator e sua arte estão encarnando um novo papel dentro dos laboratórios neurocientíficos, isto é, o papel de sujeitos experimentais capazes de auxiliar na construção de conhecimento sobre questões de difícil abordagem como emoções, consciência, criatividade etc.  O estudo científico das emoções, por exemplo, é particularmente difícil por motivos bioéticos e experimentais. É extremamente complexo induzir respostas emocionais em laboratório e o uso do modelo animal apresenta obviamente seus limites quando se pretende desvendar a complexidade do comportamento humano. Por este motivo, neurocientistas e neuropsicólogos demonstram um crescente interesse no potencial apresentado pelo artista de teatro. Assim, o estudo interdisciplinar que une teatro, performance, dança e as neurociências tem um forte potencial de aplicação para melhorar a qualidade de vida de pessoas com deficiência e com doenças mentais. A abordagem experimental de como as emoções são vivenciadas no teatro pode, de fato, facilitar a comunicação de pessoas com autismo, além propiciar uma melhora da qualidade de vida para pessoas com transtorno de ansiedade ou Doença de Parkinson.

O “Encontro de Artes Performáticas e (Neuro)ciências?”, idealizado pelo Limbiseen Lab (NCE/UFRJ), pretende discutir as intersecções e aplicações entre a arte da performance e a (neuro)ciência, aproximando pesquisadores, artistas e alunos de diferentes disciplinas. O evento será realizado na UFRJ, no Teatro Roxinho, localizado no Centro de Ciências Matemáticas e Naturais (CCMN).

 

Referências:   

BLAIR Rhonda, The Actor, Image and Action. Acting and Cognitive Neuroscience, London, New York, Routledge, 2008.

KEMP Rick, Embodied Acting. What neurosciene tell us about performance. London, New York, Routlege, 2012.

LUTTERBIE John, Toward a General Theory of Acting. Cognitive Science and Performance, New York, Palgrave Macmillan, 2011.

MARINIS Marco de, “Corpo e Corporeidade no Teatro: da semiótica às neurociências. Pequeno glossário interdisciplinar”, in Revista Brasileira de Estudos da Presença, Porto Alegre, v. 2, n. 1, p. 42-61, jan./jun. 2012.

SNOW, Charles Percy. The Two Cultures. London. Cambridge University Press, 1959. Importância para o Estado do RJ

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